O rádio teve sua era de ouro, mas a magia continua presente. O universo transformador do aparelho de rádio chegando aos lares brasileiros, trazendo música, poesia e informações modificou costumes e iluminou vidas. “Com o rádio, o homem aprendeu a ser mais feliz” diz o ator e diretor Jorge Julião, que há dez anos pesquisa o tema com seu grupo de alunos da maturidade, com idades variando de 65 a mais de 80 anos.
O novo espetáculo traz o mesmo nome do grupo, e não por acaso. A construção do texto é feita em conjunto, unindo lembranças de quem faz parte das gerações moldadas pelas notícias, músicas, curiosidades, humor, radionovelas, como a Internet e os podcasts do mundo atual.
Valorizar o rádio e seu repertório são objetivos do espetáculo “Rádio Ilusão”, uma remontagem histórica e sentimental. “Envelhecemos, passamos por uma pandemia, sobrevivemos. Queremos continuar a pesquisa em torno dos fatos que transformaram a vida dos brasileiros nas décadas de 50 e 60, quando o rádio chegou expandindo a imaginação, criando e mostrando um novo Brasil”, comenta Julião.
Para Julião, a arte é sempre transformadora: “Com o teatro, os atores mudam em todos os sentidos: o humor, a capacidade de interagir com os outros membros do grupo e até coma família. Os parentes maios próximos começam a enxergá-los diferentes. Subir no palco é uma atitude ousada, o velho não precisa ficar em casa vendo TV, pode continuar fazendo coisas que gosta e melhorar a qualidade de vida”.
Os desafios são grandes, mas o diretor comenta que os benefícios também: “Fico contente quando vejo que combinam café, teatro, cinema, é uma ramificação do teatro dentro da vida. Todos os grupos são abertos para pessoas com mais de 65 anos. A vida coloca tanto medo no dia a dia que essa batalha tem que ser diária e interna para tirar os medos, os preconceitos, tirar os não devo e não posso e seguir seus projetos . Até familiares e parcerias afetivas às vezes desestimulam. Por isso é importante que a pessoa queira fazer e busque seu sonho”.
O grupo
O Grupo Rádio Ilusão foi idealizado em 1999, inicialmente no Teatro Arthur Azevedo, na Mooca, e depois oficialmente criado por meio de um projeto de fomento ao teatro, na Casa da Comédia, no Teatro dos Arcos, coordenado pelo diretor Zé Renato Pécora. Na época, Julião insistiu para abrir espaço para um grupo de maturidade, e o que parecia impossível deu certo. Com o tempo, se firmou com um núcleo estável de artistas, que idealiza e monta espetáculos e pesquisa utilizando a linguagem do teatro realista e testemunhal, de forma continuada.
Formado por cerca de 68 participantes, o grupo ampliou espaços, vários se profissionalizaram e trabalham em fotos e propagandas. É mais um representante de resistência das artes dramáticas na cidade de São Paulo, contribuindo para a construção da memória e identidade contemporânea, em especial com temas relacionados ao teatro e à idade madura.
O grupo já montou 20 espetáculos, como “Rádio Ilusão”, “Enquanto Houver Canções”, “Antes de Paris” e “Barbarelas”, com apresentações no Teatro Commune, em teatros da periferia de São Paulo, no interior e em outros estados.
Sobre Jorge Julião
Ator, Professor e Diretor teatral, Jorge coordena o Grupo Teatral Rádio Ilusão. Também dá aulas de teatro no Shopping Eldorado. No cinema, um dos trabalhos mais emblemáticos de sua carreira é a participação no filme “Pixote: a lei do mais fraco”, de Hector Babenco, quando interpretou o personagem Lilica. Inspirado no livro “Infância dos mortos’, de José Louzeiro, o longa-metragem estreou em 1980 e foi eleito o 12° melhor filme brasileiro de todos os tempos, inclusive com uma indicação ao Globo de Ouro de melhor filme internacional. Jorge Julião ganha o APCA de ator revelação em 1980.
Desde 1977, participa de várias montagens teatrais, como ator e diretor, entre elas “O Último Carro”, texto e direção de João das Neves ; “Blue Jeans”, texto de Zeno Wilde e direção de Zeno Wilde e Alberto Soares; “Chapeuzinho Amarelo”, de Chico Buarque, direção de Roberto Lage; “O Dia que Raptaram o Papa”, de João Bittencourt, direção de José Renato; “Trilogia da Louca”, de Harvey Firstein, direção de Antônio Abujamra .
Ficha Técnica – Rádio Ilusão
Direção: Jorge Julião; Assistente de Direção: Cristina Vilella; Direção musical: João Soran; Cenografia e Figurino: Nani Catta Preta; Músico: João Soran; Produção: Anderval Areias.
Elenco: Adriana Paes de Barros, Tieta Carneiro, Cida Moedano, Celso Quartim, Bellis Dulce, Carmen Souza, Cristina Vilella, Dora Carvalho, Elsa Melo, José Bebber, Leda Maria, Maria Cleide Poço, Marly Gonçalves, Miriam Alves, Nani Catta Preta, Rosa Miller, Vera Lúcia Amaro, Zely Shalders, João Soran.
Serviço
“Rádio Ilusão”
Dias 17, 18, 24 e 25 de fevereiro e nos dias 2 e 3 de março
Duração: 1h10
Ingressos no Sympla e bilheteria do teatro
Classificação: 10 anos
Gênero: Comédia dramática
Teatro Commune
Rua da Consolação, 1.218 (ao lado da estação Mackenzie do Metrô e do TRT)
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